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The Merdaleja of Astartia

Alentejo and Algarve wrote:Acho que fazes dois pontos interessantes (ou um que leva ao outro necessariamente). Muita da ênfase naquele individualismo e liberdades individuais que os neo-liberais tão orgulhosamente usam como bandeiras não passa do egoísmo mascarado por ideias com bom som. Claro, como é óbvio, quem se deixa levar por estas ideias de espíritos indomáveis tende a ser quem já está tão removido da sociedade em geral que não tem a mínima noção da vida de quem está do outro lado da barricada.

O equalizador de que falas devia ser a escola pública, mas não o é porque os St Julians continuam a ter boas posições nos rankings enquanto os alunos têm todos explicações cá fora. Devia ser o serviço nacional de saúde, mas não o é porque as CUFs são autênticos hotéis mas numa situação de urgência os médicos do público são os mesmos. Devia ser a justiça, mas não o é porque as investigações demoram tanto que os crimes caducam a meio. Então o que é?

Há uns anos assisti a um vídeo de um alemão que relatou como na Alemanha, até há poucos anos, em alternativa ao serviço militar obrigatório, havia a opção de prestar um serviço à comunidade, trabalhando num lar ou hospital por exemplo. Fosse a rastejar no chão ou a dar pudim a um idoso, 6 meses ou um ano, uma experiência de serviço público seria uma mais valia tanto para os jovens que nela participariam - o enriquecimento e o contacto com uma realidade palpável - como para todos na generalidade enquanto sociedade de forma mais ou menos direta.

Há outro argumento a meu ver a favor de um sistema assim e prende-se muito com a forma quase mecânica como o currículo escolar funciona. É esperado de nós jovens que após os 12 anos de escolaridade entremos no ensino superior, licenciatura - mestrado - e finalmente mercado de trabalho - e parece-me que neste caminhar há muito pouco tempo para de facto refletir e analisar o que queremos e quais as nossas aspirações superiores. Ao cortar o ciclo de estudo, sinto que o tal ano de pausa, mas não sabático, tem o potencial para oferecer novas perspetivas sobre si mesmos a estes trabalhadores em potência sobre os seus desejos.

Ah e obviamente, independentemente do sistema a aplicar, uma sociedade moderna tem de incluir todos como em - treme - Israel

Israel (oh não, vamos levar com um ataque bombista em cima) é talvez uma das sociedades mais interessantes porque a necessidade de sobreviver significa que muitos elementos daquilo que nós rotulamos como esquerda e direita coexistem lado a lado. Um pouco como acontecia no ocidente durante a guerra fria.

Eu olho com muita suspeita para com o individualismo extremo, talvez porque quando era mais jovem o defendia em certa medida porque era egoista. Não sei porquê, e pode ser uma prova anedótica, mas com a maturidade vem uma certa dose de compaixão e respeito pela comunidade que não temos em jovens (a não ser, claro, que se seja psicopata como 1 em cada 5 CEO: https://www.cnbc.com/2019/04/08/the-science-behind-why-so-many-successful-millionaires-are-psychopaths-and-why-it-doesnt-have-to-be-a-bad-thing.html)

A realidade é que estamos todos no mesmo barco mesmo não sendo todos iguais, e a nossa educação devia dar-lhe mais ênfase. Mas chegámos a um momento em que muitas pessoas leem citações de um líder cívico como o Eisenhower e pensam que estamos a falar de socialismo...

Quanto ao reflectir e analisar, a sociedade moderna neoliberal realmente não dá muita abertura para isso. É irónico pois os computadores supostamente iam permitir uma sociedade menos intelectualmente opressiva, mas cá estamos. Um ano de falha no CV é fatal. Tudo é quantificável e transformavel em dados: desde filmes ao amor. Hobbies, paixões, interesses, tudo irrelevante para a máquina.

E claro, abriu-se as portas à China, e manteve-se essas portas abertas apenas por ganância, precisamente para se matar essa sociedade de bem-estar que se começava a formar na Europa e EUA.

Parece quase um argumento de esquerda, mas a sociedade actual arrelia-me como alguém de direita. "A comunidade é para esquecer, tens que fazer é networking. A Nação é irrelevante, obsoleta. A família não importa, compra um cão, a empresa é mais importante. Acreditar em algo que não seja a marca, é parvo, crenças não importam no "fim da história"..."

O curioso é que o livro "O homem light: uma vida sem valores" acaba por ser mais relevante hoje do que a burrice do infame livro "O fim da história e o último homem".

Mas pronto, termino o meu estranho e destrambelhado rant existencialista com este sketch: https://www.youtube.com/watch?v=hkCR-w3AYOE

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